Contador de Visitas

terça-feira, 24 de setembro de 2013

A ÚLTIMA FASE

Para aqueles que não sabem, a doença de Mal de Alzheimer tem suas fases: Inicial, Intermediária e Final. Mas nesta postagem darei ênfase a Fase Final, embora nem todo paciente de Alzheimer chegue até ela pelas próprias complicações decorrentes da doença. No caso da minha mãe, ela só chegou até esta fase não apenas pelos cuidados diários para com ela, mas porque ela não tinha nenhum outro problema de saúde ...Tudo se concentrava em sua cabeça: no cérebro. A Fase Final é a mais penosa tanto para o doente quanto para o cuidador! Os portadores de Alzheimer ficam extremamente debilitados, necessitando de auxílio para tudo! E quando me refiro a TUDO é TUDO MESMO!!! Além de não conseguirem, por exemplo, se alimentarem sozinhos, segurar uma caneca, eles não conseguem sequer se moverem sozinhos na cama! Seu vocabulário fica mais "pobre", falando poucas palavras corretas, sua linguagem se assemelha a de uma criança quando está aprendendo a falar! Já não têm mais firmeza nas mãos e nas pernas, necessitando do uso da cadeira de rodas. Não conseguem nem ficarem sentados, precisando estarem "apoiados" por algum almofadão, ou auxílio de alguma pessoa. Estão tão debilitados que passam a maior parte do tempo acamados.
Se tornam verdadeiros "bebês gigantes"! E apesar de toda a sua fragilidade e trabalho que nos dão, seu olhar meigo, inocente, nos cativam! É impressionante como possa ocorrer essa "involução" no ser humano ... como o cérebro humano executa esse processo de voltar no tempo, gradativamente, até chegar nos primórdios da PRIMEIRA INFÂNCIA .
Não é fácil chegar junto com o doente nesta fase!... Primeiro porque até chegar nesta fase, já se passaram anos, e a gente se sente esgotado pelo estresse dos cuidados diários, por todas as dificuldades, sofrimentos, passados nas fases anteriores. Houve momentos, por me sentir tão esgotada, pois eu desde que meu pai falecera, passei a cuidar sozinha da mamãe.eu cheguei a pedir a Deus que acabasse com aquele sofrimento e a levasse para junto de dEle. Eu não podia trabalhar fora e o que ela recebia de pensão era pouco demais para pagar uma enfermeira ou cuidador de idoso. Nossa renda mensal mal dava para pagar as despesas do tratamento dela, e as despesas com o pagamento de contas e alimentação. À medida que a doença avança, encarece o tratamento, pois aos poucos vão sendo administrados novos medicamentos, por exemplo. Mas, como disse aqui anteriormente, apesar de todo o trabalho que um paciente de Alzheimer nos dá... seu olhar meigo, inocente, nos cativam! E várias vezes pedi perdão a Deus por desejar que minha mãe falecesse! Pelo contrário, toda aquela meiguice dela foi me cativando, a cada vez que ele me chamava de mamãe, me fazia um carinho, ou dava um sorriso banguelinho!!! E com isto fui-me apegando a ela de tal maneira que em vez de reclamar passei a ter gosto, alegria e viver aqueles últimos dias ao lado da minha mãe! "Pois os nossos sofrimentos leves e momentâneos estão produzindo para nós uma glória eterna que pesa mais do que todos eles." (2 Coríntios 4:17)
A cada dia eu fui "aprendendo" com a doença de Alzheimer da mamãe. Esta última fase com certeza deixará grandes marcas em mim, pois despertou meus sentidos para uma realidade que eu então desconhecia! Esta fase me ensinou a não pensar no TEMPO: viver o presente, cada dia como se fosse o último dia! O relógio em nossa casa deixou de controlar nossas vidas! Era simplesmente DIA ou NOITE! Pois nesta última fase, o horário biológico de um paciente de Alzheimer ele fica totalmente alterado! Assim como os bebês trocam "o dia pela noite", assim acontece com um portador de Alzheimer. Nem adianta estabelecer regras: horário pra acordar, tomar café, almoçar, tomar banho, etc ... quem faz a hora é O PACIENTE DE ALZHEIMER! Creio até que tendo adotado este sistema (obedecer o ritmo biológico do paciente de Alzheimer), tenha contribuído para o prolongamento de vida da mamãe. Nunca a forcei a NADA! Se acordava as 8 horas da manhã, então seria neste horário que lhe daria o banho! Mas se acordava meio-dia, este seria o horário dela tomar banho! O paciente de Alzheimer dorme pouco ... e em cochiladas fracionadas. Raramente minha mãe dormia uma noite inteira! E isto, porque eu evitava de dar-lhe calmantes, pois ao longo dos anos eu pude perceber que estes tipos de medicamentos a deixava muito lerda, parada demais, e me dava muito mais trabalho para lhe dar banho ou levantá-la da cama. CALMANTE só em último caso, ou seja, se realmente for necessário! Com a chegada dessa última fase, alguns procedimentos tiveram que serem adotados na casa, e um deles, foi LIMITAR a presença de visitas, para evitar a contaminação por bactérias. Como já disse aqui, o paciente de Alzheimer fica extremamente debilitado e um resfriado mais forte que leve a uma pneumonia, por exemplo, torna-se fatal! E os "passeios" da mamãe se limitaram apenas dentro e fora da casa. Como o paciente de Alzheimer não se lembra do que aconteceu há 5 minutos atrás, eu podia passar 3 vezes no mesmo local da casa que para ela era como se estivesse vendo aquele local pela primeira vez! "Se a tua lei não fosse o meu prazer,o sofrimento já me teria destruído." (Salmo 119:92) Eu sempre digo que se eu não acreditasse na existência de um Deus que é Pai, Filho, Espírito Santo ... eu não teria suportado esta fase do Alzheimer. Minha FÉ em Deus, e os ensinamentos cristãos apreendidos ao longo da minha vida, foram fatores imprescindíveis para me manterem ERGUIDA ! Pois assim como a mamãe foi ficando cada vez mais debilitada, começaram a surgirem meus primeiros problemas de saúde em decorrência do estresse acumulado em anos ao lado da mamãe: colesterol e pressão alta, processos infecciosos repetitivos na gengiva, ectasia ductal (secreção sanguinolenta em uma das mamas), dores na coluna, micro varizes pelo esforço diário para levantar a mamãe da cama ou caminhar com ela (ela só andava apoiada em meus braços!). No final do dia, quando me deitava, sentia meu corpo doer todinho!!! E tinha dias que eu achava que não conseguiria me levantar da cama nunca mais!
"Este é o meu consolo no meu sofrimento: A tua promessa dá-me vida." (Salmo 119:50) Mas eu sempre confiei em Deus! E eu sabia que JESUS estava SEMPRE ali comigo e com a mamãe! E Ele não iria permitir que nenhum mal maior pudesse me atingir, pois a mamãe só tinha eu para cuidar dela, e EU só tinha a mim mesma para cuidar de mim! Uns poucos amigos que iam nos visitar ficavam impressionados de como eu ainda permanecia de pé, cuidando de tudo sozinha! E sempre encontravam a mamãe de banho tomado, limpinha, cheirosinha, sempre com um sorriso lindo nos lábios! E a casa sempre limpa, cheirosa, que nem parecia ter doente na casa! A resposta é uma só: A GRAÇA DE DEUS ESTAVA PRESENTE EM NOSSAS VIDAS, EM NOSSA CASA! "A nenhuma viúva nem órfão afligireis. Se de algum modo os afligires, e eles clamarem a mim, eu certamente ouvirei o seu clamor." (Êxodo 22:22-23) DEUS não abandona os seus servos, mas os ouve nas suas angústias. Nas horas mais difíceis Deus está preparado para atender o justo clamor dos necessitados. A fidelidade do Senhor está presente em vida e até depois da morte, pois ainda que nós sejamos infiéis, Ele o Senhor permanece fiel e vela pela sua palavra, para fazer cumprir as suas promessas na nossa vida e da nossa família.